A clínica da psicossomática

       As expressões psicossomáticas intrigam pela inaprensibilidade das causas orgânicas que as produzem. Ainda que o reconhecimento de sua importância seja uma marca do mundo contemporâneo, desde o século XIX, o Dr. Freud já verificava em seus pacientes, como frases inconscientes  podiam converter-se em sintomas do corpo.  

      a valsaJuntamente com um acompanhamento médico adequado, resultados surpreendentes têm sido alcançados, evitando os efeitos colaterais de tratamentos químicos pesados ou intervenções cirúrgicas mais radicais, bem como os inconvenientes da dependência medicamentosa no controle de sintomas.

       Há muitas doenças que se manifestam sem aparente explicação para sua causa orgânica. Entretanto, a experiência da psicanálise demonstra ser possível o aparecimento de um sintoma expresso no corpo, quando, por ação de uma forte pressão psíquica inconsciente, algo deixa de ser feito ou falado, podendo acarretar, entre outros, transtornos alimentares, disfunções hormonais, problemas de pressão, doenças autoimunes, problemas de pele, do sistema respiratório, dores e mal-estares sem origem aparente.
       Da mesma forma que situações estressantes podem pela via psíquica sensibilizar determinado órgão ou região do corpo, certamente os sintomas por elas desencadeados também serão tratáveis psiquicamente, ou seja, pela via da palavra, visto que as condições causadoras de estresse estão mais relacionadas a como cada pessoa consegue reagir à situação do que à situação em si.
       Pensando em oferecer um tratamento para estes males, nossa clínica reúne um grupo de psicanalistas que desenvolve a invenção freudiana em concordância com as atualizações propostas pelo Dr. Jacques Lacan, de forma a desenvolver na cidade, um espaço diferenciado de atenção às palavras não ditas.

Ansiedade

Anton Melbye   Fyrtårn for Storebælt
       Para a Psiquiatria evolutiva, as raízes da ansiedade encontram-se nas reações de defesa dos animais em face a estímulos que representam perigo/ameaça à sobrevivência, ao bem-estar ou à integridade física das diferentes espécies. Essa perspectiva caracteriza o mal lado a lado com reações instintuais ou fisiológicas, delegando papel menor à formação significante das ideias relacionadas à ansiedade, e apesar de criticada por esse motivo, ainda é uma ideia de forte razão e aceitação.

        Para que um médico diagnostique o transtorno de ansiedade generalizada, a pessoa precisa sentir uma preocupação ou ansiedade que

  • É excessiva

  • Diz respeito a diversas atividades e eventos

  • Está presente mais dias do que o contrário durante seis meses ou mais

       Além disso, a pessoa precisa apresentar três ou mais dos sintomas a seguir:

  • Agitação ou uma sensação de tensão ou nervosismo

  • Tendência a cansar-se facilmente

  • Dificuldade de concentração

  • Irritabilidade

  • Tensão muscular

  • Distúrbio do sono

       Os tratamentos 

       Diante da incerteza sobre a conformação orgânica da ansiedade, consegue-se apontar alguma influência de fatores ambientais e genéticos, e medicamentos como benzodiazepínicos e antidepressivos são prescritos para induzir um efeito calmante ou melhorar o humor, mas devem ser administrados com cautela, especialmente pelos riscos de tolerância, dependência e abstinência.
       Na terapia cognitivo comportamental, ainda que não haja um consenso sobre as técnicas a serem empregadas na intervenção, há uma tendência dominante por se buscar extinguir os sintomas fisiológicos alterados resultantes do estado de ansiedade, e ensinar ao paciente novas habilidades comportamentais que o capacitem a realizar fuga ou esquiva das situações ansiogênicas. Há muitas outras propostas menos utilizadas, incluindo alterar o ambiente para que o paciente não precise entrar em contato constante com o elemento que lhe causa angústia. Independentemente de qual seja a estratégia empregada pelo terapeuta, trata-se de uma aposta válida na tentativa de trazer alguma paz para o paciente, uma vez que preza por uma intervenção mais simplificada e rápida.

       Entretanto, é no campo daquilo que estaria fora do alcance das outras terapias que o desvendamento do inconsciente mostra-se um caminho valioso: uma situação na qual uma abordagem comportamental não alcance resultados satisfatórios não deve ser entendida como mera incapacidade do profissional que a desenvolveu, visto que, se há uma questão inconsciente a ser tratada, o paciente sequer terá o poder de descrever corretamente aquilo que lhe aflige, fazendo com que seja impossível que o terapeuta possa oferecer um programa adequado para seu caso.

       A psicanálise nos ensina que, ao contrário do que o entendimento popular crê, um verdadeiro trauma não permanece acessível à memória sob a forma de um fato marcante. Isso porque a vivência traumática só se concretiza caso seja estruturada por dois momentos: um primeiro evento, que encontra-se reprimido no pensamento presente, e por isso, não se apresenta disponível como recordação; e um segundo evento que é interpretado pelo paciente como possuidor de um significado correlato ao primeiro, e que tanto oferece um novo significado, quanto instala a repressão sobre ele. Dessa forma, o segundo momento do complexo traumático torna-se uma situação considerada marcante para o indivíduo, sem, no entanto, carregar em si todo o conteúdo significante e perturbador do primeiro momento. Tal conformação produz no paciente uma ansiedade que é decorrente de sua impotência em descrever corretamente de que se trata seu mal-estar, ao mesmo tempo que esse pensamento reprimido possui tão elevada importância, que repetidamente busca conectar-se em sentido com os eventos cotidianos.

Me dou medo - Entre a fobia, o medo e o pânico

       Dentre todas as manifestações psicológicas mais comuns da contemporaneidade, a que se solidificou com o rótulo de Síndrome do Pânico infelizmente é a que conta com um tratamento medicamentoso tão impreciso quanto a própria compreensão do paciente acerca da fonte de seu sofrimento. Na busca por controlar os sintomas e afastar o indivíduo da sensação mais aterrorizante que poderia vivenciar, administram-se mais uma vez antidepressivos de todas diferentes subclasses, ou benzodiazepínicos, ou uma associação dos dois grupos de fármacos, tendo sua dosagem experimentada até que se alcance um limiar admissível através do qual o paciente não alcance nem a sobre-excitação desencadeante da crise, nem tampouco seja deixado em exagerado torpor ao longo dos dias.

       O estranhamento e indefinição experimentada pelas pessoas acometidas pelas crises de pânico dizem respeito à dificuldade em apontar a fonte de seu mal-estar. Entretanto, os sintomas experimentados são bastante constantes e característicos, e estão assim listados no DSM-V:

  • Palpitações, coração pulsando forte ou acelerado
  • Sudorese
  • Tremores
  • Falta de ar
  • Náusea ou desconforto abdominal
  • Tontura
  • Calafrios
  • Dormência ou formigamento de membros
  • Dor ou desconforto no peito
  • Sensação de sufocamento
  • Despersonalização e desrealização
  • Medo de perder o controle 
  • Medo de morrer

     Tais reações não deixam dúvida de que estejamos ouvindo a descrição de um medo mortal no sujeito em crise. Esse sentimento é bem diferenciado de outras formas de medo, pois nele, a pessoa ignora a fonte do perigo sentido, sendo muitas vezes acometida em uma situação inesperada, ainda que possa pressentir sua aproximação.

      Sensações bastante similares ocorrem com os medos designados fobias, porém, neles o objeto causador do medo é bem delineado, e o paciente ignora apenas a razão pela qual seu medo seja experimentado com tamanha desproporcionalidade a seu risco. As fobias facilmente se instalam em crianças (um medo aterrorizante de algum objeto como uma cortina, um balanço, de algum animal, etc), mas felizmente tendem a resolver-se em período satisfatoriamente curto com ou sem a intervenção de qualquer terapeuta. Isso porque tais condições são constitutivas daquilo que em psicanálise Jacques Lacan denominou “placa giratória”, um momento de transição das fantasias infantis para sua posterior acomodação em racionalizações que possam ser preservadas de forma sustentável e levadas para sua vida adulta. Intrínseco a esse processo, é que o objeto de uma fobia precisa ser reencontrado com facilidade: uma pessoa que vive na cidade, por excelência, nunca desenvolverá uma fobia de galinhas, mas possivelmente o fará com aranhas, se essas puderem ser encontradas com frequência debaixo do próximo objeto a ser levantado.

       Felizmente, os sintomas mais agudos relacionados à Síndrome do Pânico são relativamente fáceis de serem controlados na psicanálise (sendo muito mais fáceis de serem tratados do que algum paciente acometido por questões ilusoriamente simples, como uma insatisfação dispersa sobre sua vida em geral). Isso se dá por conta da percepção de que o medo desmedido se estabelece em razão de uma forma pessoal de pensamento. Tal auto-responsabilização facilita que o paciente fale sobre si, rapidamente encontrando-se no consultório com fragmentos de pensamentos que antes lhe passavam despercebidos. Trata-se de um paciente que tampouco se satisfaz e interrompe sua análise assim que os sintomas agudos estejam controlados, mas que busca respostas para seus enigmas internos, busca compreender os motivos de pensar de uma maneira que causava medo a si próprio, em um artifício que só poderá encontrar na experiência que extrairá de sua análise.

Depressão



       Encabeçando a relação de males em ascensão na contemporaneidade, a depressão é uma das notórias patologias cujo aumento da incidência acompanha a disponibilidade e evolução dos medicamentos que a tratam. 

Bierstadt Albert - Sunset in the Yosemite Valley
       Diante de uma influência multifatorial tão inegável quanto intrincada entre configuração genética, pressões do ambiente, e estado psicológico, o desenvolvimento de novos fármacos preponderantemente aposta no controle do estado de espírito do paciente pela manipulação das concentrações de três neurotransmissores: a serotonina (ligada a compulsões e obsessões), 
a norepinefrina (ansiedade e atenção) e a dopamina (atenção, motivação, prazer). O efeito psicotrópico de tal artifício costuma induzir uma sensação tão agradável de distanciamento dos tormentos mundanos, que a procura crescente por tais drogas é compreensível e escusável. 

       Mas para nosso desencanto, as consequências psicológicas relacionadas a cada neurotransmissor não se restringem ao aumento ou diminuição de cada um desses - não, as experiências prazerosas não são um mero pico de dopamina, por exemplo - e o que factualmente temos são modelos que apontam um grande mecanismo ainda compreendido de forma incipiente, no qual essas substâncias desempenham seu papel na modulação do humor. O mais básico dos desafios ainda não vencidos é entender o que leva à concentração anômala desses mensageiros sinápticos, ou seja, o que faz com que sua distribuição altere-se diante de notícias tristes? Nesse limbo começam os casos de divórcio com os anti-depressivos.

       Os pacientes que buscam psicanálise são em grande parte uma mostra de um grupo que não teve um relacionamento feliz com as drogas psiquiátricas, seja porque não lhes agrada a sensação de dependência e a artificialidade de seus sentimentos, seja porque os pensamentos depressivos seguem vivos mesmo após a tentativa de domá-los quimicamente, e facilmente se identificam com os grande parte dos sintomas esperados pelo manual: 

 

  • Desânimo
  • Diminuição de interesses e prazer
  • Variações de peso e apetite
  • Transtornos de sono
  • Agitação ou lentidão motora e psíquica
  • Fadiga / falta de energia
  • Sentimento de desvalor/culpa
  • Baixa concentração
  • Pensamentos suicidas

 

       Se para a prescrição medicamentosa, considera-se fundamental ater-se à lista de sintomas conforme versa o guia, para um tratamento psicanalítico eles têm muito pouca informação a contribuir.  Isso porque, na psicanálise, sabe-se que a depressão é um estado agravado de defesa do Eu. Todos mecanismos psíquicos confluem para retirar o interesse que poderia ser destinado às coisas do mundo exterior, numa tentativa de preservar a integridade individual. Esse processo de introversão faz com que o depressivo tenha tanta atenção sobre si mesmo, que passa a notar com agudez todos seus defeitos e limitações. A perspicácia da autocrítica exige profundas reflexões, distinguindo os depressivos como pessoas de inteligência aguçada, o que levou S. Freud a questionar por que seria preciso alguém estar doente para ser capaz de emitir um juízo tão sóbrio sobre a mediocridade humana no mundo. Fazendo uso de tal economia depreciativa, é compreensível que seja muito custoso para o depressivo desempenhar suas obrigações ou desfrutar de um envolvimento amoroso.

       Encontrar-se com o verdadeiro objeto das críticas e com a efetiva falta que inconscientemente sustentam as justificativas de tão desmedida depreciação acaba sendo um caminho necessário de ser trilhado para a maioria dos depressivos que venham a se colocar no lugar de analisantes.

O início de sua análise

      Originalmente psicólogo por formação, Yuri Disaró Amado atua desde 2006 como psicanalista, desenvolvendo seu trabalho sempre segundo a perspectiva de uma psicanálise pura, tal como desenvolvida por Freud e Lacan. Essa fidelidade à prática é o caminho pelo qual se faz possível acessar e trabalhar questões inconscientes que impediam uma pessoa de viver uma vida produtiva e prazerosa. Descobrir tudo o que você pode conquistar em seu percurso de análise requer a coragem de um primeiro passo que pode estar sendo dado agora.

Marque sua primeira consulta

(48) 98428-7888