Ansiedade

Anton Melbye   Fyrtårn for Storebælt
       Para a Psiquiatria evolutiva, as raízes da ansiedade encontram-se nas reações de defesa dos animais em face a estímulos que representam perigo/ameaça à sobrevivência, ao bem-estar ou à integridade física das diferentes espécies. Essa perspectiva caracteriza o mal lado a lado com reações instintuais ou fisiológicas, delegando papel menor à formação significante das ideias relacionadas à ansiedade, e apesar de criticada por esse motivo, ainda é uma ideia de forte razão e aceitação.

        Para que um médico diagnostique o transtorno de ansiedade generalizada, a pessoa precisa sentir uma preocupação ou ansiedade que

  • É excessiva

  • Diz respeito a diversas atividades e eventos

  • Está presente mais dias do que o contrário durante seis meses ou mais

       Além disso, a pessoa precisa apresentar três ou mais dos sintomas a seguir:

  • Agitação ou uma sensação de tensão ou nervosismo

  • Tendência a cansar-se facilmente

  • Dificuldade de concentração

  • Irritabilidade

  • Tensão muscular

  • Distúrbio do sono

       Os tratamentos 

       Diante da incerteza sobre a conformação orgânica da ansiedade, consegue-se apontar alguma influência de fatores ambientais e genéticos, e medicamentos como benzodiazepínicos e antidepressivos são prescritos para induzir um efeito calmante ou melhorar o humor, mas devem ser administrados com cautela, especialmente pelos riscos de tolerância, dependência e abstinência.
       Na terapia cognitivo comportamental, ainda que não haja um consenso sobre as técnicas a serem empregadas na intervenção, há uma tendência dominante por se buscar extinguir os sintomas fisiológicos alterados resultantes do estado de ansiedade, e ensinar ao paciente novas habilidades comportamentais que o capacitem a realizar fuga ou esquiva das situações ansiogênicas. Há muitas outras propostas menos utilizadas, incluindo alterar o ambiente para que o paciente não precise entrar em contato constante com o elemento que lhe causa angústia. Independentemente de qual seja a estratégia empregada pelo terapeuta, trata-se de uma aposta válida na tentativa de trazer alguma paz para o paciente, uma vez que preza por uma intervenção mais simplificada e rápida.

       Entretanto, é no campo daquilo que estaria fora do alcance das outras terapias que o desvendamento do inconsciente mostra-se um caminho valioso: uma situação na qual uma abordagem comportamental não alcance resultados satisfatórios não deve ser entendida como mera incapacidade do profissional que a desenvolveu, visto que, se há uma questão inconsciente a ser tratada, o paciente sequer terá o poder de descrever corretamente aquilo que lhe aflige, fazendo com que seja impossível que o terapeuta possa oferecer um programa adequado para seu caso.

       A psicanálise nos ensina que, ao contrário do que o entendimento popular crê, um verdadeiro trauma não permanece acessível à memória sob a forma de um fato marcante. Isso porque a vivência traumática só se concretiza caso seja estruturada por dois momentos: um primeiro evento, que encontra-se reprimido no pensamento presente, e por isso, não se apresenta disponível como recordação; e um segundo evento que é interpretado pelo paciente como possuidor de um significado correlato ao primeiro, e que tanto oferece um novo significado, quanto instala a repressão sobre ele. Dessa forma, o segundo momento do complexo traumático torna-se uma situação considerada marcante para o indivíduo, sem, no entanto, carregar em si todo o conteúdo significante e perturbador do primeiro momento. Tal conformação produz no paciente uma ansiedade que é decorrente de sua impotência em descrever corretamente de que se trata seu mal-estar, ao mesmo tempo que esse pensamento reprimido possui tão elevada importância, que repetidamente busca conectar-se em sentido com os eventos cotidianos.


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